Ainda hoje me deparo com muitas construtoras que não desenvolvem o orçamento e planejamento executivos de suas obras. E não me refiro somente às pequenas e médias empresas, mas muitas de grande porte também não o fazem.
Essa metodologia de trabalho, notadamente oriunda das grandes obras públicas, difundiu-se no cenário nacional do setor da construção com o advento da reengenharia, que muitas empresas se submeteram nas décadas de 1980 e 1990, quando a implantação de novas práticas e técnicas (downsizing, outsourcing, empowerment, benchmarking, etc.) demandou por parte dos profissionais envolvidos um controle absoluto de custos e prazos das obras.
Contudo, o trabalho operacional era imenso, pois nessa época a microinformática engatinhava. Começavam a nascer os primeiros sistemas específicos para o setor (Sicc®, RM Orca®, Tron-Orc®, Civil®, Atrium® e outros) e as empresas iniciavam seus investimentos na informatização com a aquisição de equipamentos, a implantação de redes, o desenvolvimento de bancos de dados e a contratação de profissionais da computação, de acordo com seu porte e conforme a visão estratégica de seus dirigentes.
Com o decorrer do tempo, as ferramentas evoluíram, se tornaram integradas aos demais sistemas de gestão empresarial (ERP) e com a tecnologia web estão hoje disponíveis online para seus usuários.
Entretanto, atualmente, ainda são muitos os motivos que impedem sua utilização pelas empresas, tornando a vida dos profissionais de execução e controle um verdadeiro martírio quando lhes são exigidas informações primordiais à empresa, como replanejamento, programação a curto prazo (commitment planning), previsões financeiras e atualização do cronograma aquisitivo de materiais e serviços. São eles:
- desconhecimento da metodologia pelos técnicos e até por gestores e dirigentes;
- falta de processos na empresa inerentes à metodologia;
- pouco ou nenhum treinamento específico do software utilizado para os usuários, resultando em sua subutilização e na criação de controles paralelos;
- poucos profissionais envolvidos com excesso de atividades;
- falta dos projetos executivos completos antes do início das obras.
Por todo o exposto, vê-se que a orçamentação das obras pelas construtoras, com poucas exceções, mantém a estrutura analítica do orçamento comercial, aquele elaborado sobre o projeto básico e utilizado na contratação ou viabilização da obra.
Quando a equipe elabora o planejamento, via de regra, o faz no formato de master plan, traçando o cronograma macro por todo o período previsto para execução da obra, normalmente itemizado somente nas etapas construtivas (fundação, estrutura, alvenaria, etc...).
Quanto à programação periódica, encontram-se no canteiro intermináveis arquivos em Excel® e, por vezes, em Project®, com seus dados desvinculados do orçamento e do planejamento inseridos no sistema.
Há de se destacar, no entanto, o descompasso temporal entre a entrega dos projetos executivos e a execução da obra, na medida em que torna-se cada vez mais comum o canteiro cobrar de projetistas o envio de desenhos, ainda que em formato preliminar, para que o cronograma não seja comprometido.
O fato mais impressionante é a constatação de que muitos profissionais desenvolvem as atividades de um planejamento executivo no canteiro de obras, sem utilizar, no entanto, a ferramenta específica para tal trabalho, resultando em vários problemas para a empresa:
- desconexão de dados entre canteiro e escritório central (offline);
- subutilização do sistema, sem o emprego de seus recursos para o desenvolvimento das tarefas;
- criação de planilhas e cronogramas individualizados e isolados nos computadores do canteiro;
- retrabalho na replicação dos dados obtidos nos controles paralelos para o sistema.
Portanto, para tornar viável o desenvolvimento e aplicação do orçamento e planejamento executivos, devem as empresas rever seus processos na área em questão, colocando em plena utilização a ferramenta que dispõem, ou ainda, substituindo-a por outra que melhor sirva aos profissionais, sempre integrada ao seu ERP, propiciando ainda um treinamento adequado a seus usuários.
Sicc® é marca da Pini, RM Orca® é marca da RM Sistemas (atualmente Totvs), Tron-Orc® é marca da WK (atualmente Tron) e Atrium® é marca da Artsys. Excel® e Project® são marcas da Microsoft.
Nenhum comentário:
Postar um comentário